Mês que vem a “neve” (pra bom curitibano, apenas uma palavra basta) completa 33 anos. Foi a segunda e última neve em Curitiba no século XX – a primeira foi em 1928. Mesmo na era do aquecimento global, ainda estamos no aguardo por um repeteco. Esse frio que anda fazendo somado às geadas dos últimos dias só fez reanimar o assunto (e a esperança) de todos os anos. Bom saber que algumas coisas na vida são constantes, como a lei da gravidade, o strogonoff do clube curitibano e o papo sobre a neve... O fato de que neve é algo tão chato quanto areia para quem convive com ela no dia-a-dia é coisa que devemos bloquear da cabeça; afinal, quebra todo o romantismo da história.
MIL NOVECENTOS E SETENTA E CINCO
Aquela neve marcou uma geração e traumatizou inúmeras outras que vieram e que ainda virão. Não consigo me lembrar de um único inverno - nem mesmo quando estava na pré-escola - em que uma possível neve não fosse assunto constante. Tendo as esperanças frustradas todos esses anos, seria de se esperar que 75 tivesse aquele gosto de ressentimento, mas o que sinto (e o sentimento parece ser unânime entre os “pós-1975” com os quais falei sobre o assunto) é uma espécie de carinho. Estranho, eu sei. Carinho por um evento que não mudou a história do mundo, que a gente não presenciou, que não afetou a história das nossas famílias... Mas é carinho, mesmo assim. Eu, por exemplo, até me emociono vendo as fotos. Sou uma “emo” total, no sentido mais nerds da palavra.
A neve de 75 fez tanto parte da minha vida que é como se fosse uma obrigação falar sobre ela (e lá vêm mais lembranças: japonas do colégio, botas sete léguas, toucas joana d’arc, ceroulas por baixo do uniforme – todos preparados para a neve que nunca chegou). Quando alguém viajava nas férias de julho, adorávamos provocar: “pode viajar, mas vai perder a neve!”. Acho que nunca vou poder viajar tranqüila no meio de ano, trauma de infância que não vai se curar jamais. Nem o aquecimento global é capaz de me acalmar. E se nevar? Neve em Curitiba bem quando eu não estou lá pra ver, como é que eu vou poder encarar meus filhos e netos no futuro?