segunda-feira, março 13, 2006

PARTE 3 – DO YOU WANT TO TAKE ME OUT TO THE MATINEE, MICHAEL?

O Franz Ferdinand não recebeu nem metade dos aplausos que deveria quando subiu ao palco; pena. Eu tinha na minha cabeça a lista de músicas que queria que eles tocassem, e tinha esperanças de que ela fosse quase que completamente atendida, uma vez que eles só lançaram dois discos, então não tem taaantas músicas assim. Das 11 canções da lista, apenas duas ficaram de fora: Eleanor Put Your Boot On e Come On Home, provavelmente por que iriam destoar em um show cheio de músicas animadas. Os hits estavam todo lá, mas a platéia não se empolgou. Não sei o que acontece com esse povo. Gastaram um dinheirão nos ingressos (que já não foram fáceis de conseguir), muitos vieram de outras cidades, alguns dormiram na fila e nem se deram ao trabalho de baixar umas músicas da banda de abertura? Nem os singles, pó? Ficaram sentados (os que podiam) ou de braços cruzados enquanto o fofo do Alex Kapranos fazia exercícios de ginástica e tocava guitarra ao mesmo tempo. A única canção que animou um pouco o pessoal foi Take Me Out – essa foi legal pois todo mundo cantou junto, o que eu estava doida pra fazer, em especial aquela hora em que Alex canta “I say.....” e todo mundo junto berra “TAKE ME OUT” (tá, eu sei que a música inteira é basicamente isso, mas tem uma parte em especial que eu to mencionando aqui!). O começo desse música é de dar arrepios.... “So if you’re lonely..” – com aquela guitarrinha de fundo.

Tirando o fato de que o clima geral do público não era dos mais animados, o show foi fantástico. Podemos até dizer que foi feito pro nosso grupinho, pra mim especialmente, que estava dando um show a parte tentando cantar ainda mais alto que o Alex. E não tava nem aí com o povo olhando, se eles não aproveitaram o problema é deles! Acho que eles mais é que ficavam assustados quando o Franz tocava os primeiros acordes e eu já gritava feito uma louca o nome da música (Alex pegou num violão e eu já começava a berrar: “ele vai tocar walk away! ele vai tocar walk away! Eu amo essa música!!! WALK AWAAAAYYYY” e todo mundo me olhava como se eu fosse uma idiota. Sim, mas pelo menos uma idiota feliz escutando Walk Away...) Felizmente o grupo que me acompanhava só olhou estranho e deu risada mas não tentou me impedir de gritar e pular durante Do You Want To, Matinee e Michael. Valeu galera!

E, como em todo show, não era só por que a platéia deu um gelo na banda de abertura que ela saiu mais cedo do palco... Deveriam era ter aproveitado, bando de bobos. Tinha gritado tanto que minha garganta ardia, minha boca estava seca, meu pé estava dormente, meu joelho já quase desistindo. Mas sabia que aquela não era a hora de desistir, o melhor ainda estava por vir e, mesmo que não tivesse uma gota d’água sequer que pudesse melhorar nossa condição, íamos agüentar firme até o final. E agüentamos. Quase...


PARTE 4 – E VAMOS AO QUE INTERESSA

As luzes apagaram, o som aumentou, e o que eu ouço senão os primeiros acordes de Wake Up, do The Arcade Fire??? Furei muito em não ter ido no Tim Festival ano passado, por isso aproveitei cada segundo dessa música tocando alto em um estádio pra 70 mil pessoas. Mas, de repente, não era mais Arcade Fire que estava tocando, e sim City Of Blinding Lights. Aquele ser não muito longe de nós era ninguém menos que The Edge, e do meio da fumaça, eis que surge Bono Vox (é Vox ainda??? Agora só chamam de Bono...). Como resultado dessa entrada do U2 no palco, não consigo mais escutar esta música sem sentir um nó na barriga e um “não acredito que isso aconteceu de verdade” na cabeça.

Pra acabar de vez com o público, lá vai Elevation e Vertigo. Ou Vertigo e Elevation, não lembro bem. A partir daí é tudo fantástico. Still Haven’t Found What I’m Looking For é de arrasar qualquer um, ainda mais com um coro de milhares de pessoas. Como estávamos bem na frente, ouvíamos de todos os lados as vozes do povo presente no estádio. Quando Bono e The Edge viram para o nosso lado e ficaram na passarela bem na nossa frente, dava pra ver os detalhes das roupas, as entradas na testa do Bono que o tornam um quase-careca e as sardas no cotovelo do The Edge. Por sorte aquele lugar ia ser bem frequentado durante a apresentação e cada vez que alguém da banda passava por ali, todo mundo se espremia e ficava ainda mais absurdamente perto. E foi ali que eles tocaram Stuck In A Moment e Sometimes You Can’t Make It On Your Own. Pra mim, esse foi o momento mais emocionante do show, sem dúvida alguma.
Nem menciono o telão, pois esse todo mundo já sabe que foi incrível. Fica até redundante falar de tudo: a declaração dos direitos humanos, a bandeira do Brasil, o COEXISTA genial que merecia um prêmio pra algum designer... E eu que achei que ia ter muito pra falar, no fim acabo falando pouco. Assisti a gravação da transmissão que a Globo fez do show esta semana e tá tudo lá. A Katilce rebolando e fazendo outras cositas mas com o Bono, o crucifixo no finalzinho de 40 (eita final dos bons!), a vaia pra Argentina. Só que, é claro, muito mais intenso, mais perto, mais emocionante e mais ao vivo. E sem o Zeca Camargo.

Acho que mais que o show (que já foi bom até demais), o melhor de tudo foi a companhia, os dois dias anteriores, a conversa de depois (fica pra próxima parte), a minha camiseta do Franz Ferdinand. Sim, o U2 fez uma apresentação avassaladora, e eu estava no melhor lugar pra assistir, mas com as pessoas certas também. Se não fosse com o Second Cup, quem sabe tivessem me pedido pra parar de ser ridícula no show do Franz, quem sabe não tivessem dado abraço coletico em One enquando milhares de celulares iluminavam o Morumbi, quem sabe (essa é com certeza!) não teria Hot Área de jeito nenhum. Então, já que estou escrevendo pra eles mesmo e alguns outros companheiros de outras aventuras, deixo um parágrafo especial:

Valeu Becca, Fabiana, Thaís e Felipe. E pra Nea e a Sans, que do México também pularam junto. Top 5, certeza! Vamos trabalhar nos 30%!!!

E depois de dois bis, quanto tudo teve fim, só faltava uma coisa: água. E depois que conseguimos água, continuamos a noite no estilo canadense: esperando o sol nascer. Fica pra próxima?

domingo, março 05, 2006

Tá, eu sei que tinha falado em 2 partes, mas a história acabou tomando vida própria... Que que eu posso fazer??
PARTE 2 – SEGUNDA-FEIRA PRÉ SHOW

Passava um pouco das 10h quando a Becca e a Fabiana chegaram no hotel para esperarmos o Felipe e a Thaís. Demos uma olhada nos jornais pra ver o que nos aguardava e logo, logo nossa carona chegou. Fomos no táxi com o pai do cara que comprou os ingressos pra gente (eternamente agradecida!!), super bacana, ele. A impressão que dava era que mesmo não indo no show, ele estava no clima também! O susto foi quando chegamos na fila... e que fila! O pessoal do começo, por pena ou por sarcasmo mesmo desejava boa sorte pros recém-chegados. O exercício matinal foi chegar até o final da fila, e mal conseguimos e o pessoal já se alinhava atrás da gente. Era a nossa vez de gritar “boa sorte” (com uma mistura de 50% pena e 50% sarcasmo – as porcentagens são muito importantes nessa história!).

A fila em si já era uma festa, capas de chuva, bombons, chaveiros.. se não me falha a memória chegaram a nos oferecer cotonetes... O pessoal do lado, com um isopor cheio de cerveja, teve a pachorra de trazer muitas esfihas do Habib’s e, quando chegou a hora de abrir o portão, saíram distribuindo pra todo mundo na fila pra não ter que jogar fora.

Pra matar o tempo, a Becca foi visionária em trazer um baralho! Sou uma decepção no que diz respeito a jogos com cartas – o único que sei jogar é “duvido”, e foi esse então o jogo escolhido. Passamos as cartas e começamos o jogo, concentrados. Não sei quem conhece ou não o jogo, mas quando a Thaís falou que tinha 4 quatros, sendo que eu tinha um na mão, gritei “duvido” – junto com o Felipe, que também tinha um 4 na mão. Confusos com a presença de tantos “4”s no baralho, resolvemos ver o que estava errado, e não era pouca coisa, hehe. No fim das contas resolvemos pegar uma caneta e “arrumar” o baralho no chuncho mesmo, pra pelo menos poder jogar. As cartas extras acabaram transformadas via mágica nas que estavam faltando. As cartas falsificadas deram certo e continuamos com a diversão. Depois de alguns jogos (por vezes interrompidos quando a fila dava uma avançada e a gente saía correndo que nem doido pra não perder o lugar) resolvemos mudar pro jogo da porcentagem. Já tinha prometido por MSN que ensinaria o clássico jogo (adolescente) pra eles em que se perguntam coisas bobas para o baralho e ele dá respostas em porcentagem – diferente do tarô. Começamos com algumas perguntas básicas pro aquecimento, até que a Thaís decide perguntar quais são as chances de todos nós entrarmos na HOT AREA no show...Parecia uma pergunta desperdiçada, já que acreditávamos que haveria algum tipo de sorteio para selecionar os sortudos da área quente... E qual a chance de todos nós sermos sorteados, hein? Quase nulas, eu diria; mas já que a pergunta tinha sido feita, resolvemos ver o resultado. Ficamos espantados com o 90% que o baralho nos respondeu – não podia estar certo de jeito nenhum, né? Perguntei as chances do Franz Ferdinand tocar um pouquinho só que fosse com o U2 e o baralho me desanimou com um 0%. Durante o nosso jogo de cartas, fomos filmados por uma equipe de TV, e eu já até ouvia o off que o repórter ia colocar na cena: “...e alguns fãs mais preparados trouxeram até baralho para ajudar a passar o tempo na imensa fila...”. Uma outra repórter de uma emissora desconhecida entrevistou a mulher e duas filhas que estavam na nossa frente quando, não sei por que motivo, eu resolvi gritar “ei! A gente tem uma história melhor!!”. Quando a repórter veio até a gente perguntar sobre nossa história, minha coragem desapareceu e eu só soltei um “conta aí, Thaís”. E a coitada contou como nós nos conhecemos no Canadá e era nosso primeiro reencontro e vínhamos de vários lugares diferentes do país e voltaríamos a nos reunir no show do Oasis. Até que foi legal, pena que ninguém viu...
Quando foi se aproximando a hora de abrir o portão, os nervos foram se fazendo notar. A fila começou a andar e o estômago foi dando um nó. Tentaram furar fila bem na nossa frente, mas felizmente os guardas deram um jeitinho nos espertões e nós seguimos passando pela catraca que confere os ingressos, a revista das bolsas e mais uma catraca para os ingressos e pronto – estávamos dentro. Infelizmente (hahaha!) nenhum dos nossos ingressos apitou a luzinha azul dos sorteados para a área VIP. Saímos correndo feito loucos, atravessando o campo gigante (aprecio muito mais os jogadores de futebol agora... atravessar um campo daqueles correndo não é para amadores). Conseguimos chegar até a grande que separa os VIPs do resto do mundo e achamos que já estava de bom tamanho, até que... Até que o guardinha da entrada da área VIP começou a acenar pra gente. Como não tínhamos nada a perder, fomos até ele, e não é que ele deixou todos nós entrarmos na área VIP??? Absurdo... Quando passamos vimos que ele estava contando o número de pessoas que entrava, e não deu outra: alguns minutos após termos passado os portões da HOT AREA se fecharam. Era inacreditável! Só depois soubemos que o próprio Bono tinha mandado a área mais próxima do palco ser aberta para os maiores fãs, aqueles que tinham passado mais tempo na fila. Não sei eu me choquei mais por estar tão absurdamente perto do placo ou por ser uma das pessoas que “ficou mais tempo na fila” – uma informação que me assustou um pouco e me fez questionar minha sanidade. E se não fosse pelo resto do Second cup eu 1- não estaria no show e 2- definitivamente não estaria no melhor lugar do mundo para ver o tal show. O fato é que todo mundo que conseguiu entrar na área VIP simplesmente não acreditava que aquilo estava acontecendo. Pessoas que estavam acampadas na frente do estádio há mais de 4 dias, loucos que gastaram suas economias inteiras nesse show e que provavelmente iam sair do show direto para a fila do show do dia seguinte... Todo mundo parecia criança: sorrisos gigantes, gritos de alegria, dancinhas ridículas, abraços coletivos; qualquer forma de expressar a incredulidade, emoção e alegria de estar a 20 metros do palco eram vistos por todos os lados. Pessoalmente, quase tão bom quanto descobrir que íamos assistir tudo muito de perto foi descobrir que tínhamos banheiros especiais para a área...

Uma das muitas coisas bacanas de ir em shows grandes como esse é a espera. Sei que muita gente detesta esta parte e não vai nesses eventos justamente por causa disso. Para mim, a espera é uma das partes mais legais. Gosto da antecipação que é criada, do fato de que todos estão reunido no mesmo lugar por um mesmo motivo. É como se todas as centenas de pessoas ali fossem suas amigas; você conversa sobre suas músicas preferidas, como viraram fãs da banda, sem contar que lá se encontra gente de todo o país, o que é sempre educativo. O mais legal são as conversas de expert que seu ouvem por todos os lados. Horas e horas conversando sobre set lists dos show anteriores do U2. Que músicas eles tocaram nos shows do México? Qual dos shows foi o melhor? Como se nós pudéssemos criar algum tipo de padrão para as músicas tocadas, e ao mesmo tempo esperando para ser surpreendidos pela banda.

A Hot Área era tão tranqüila que podíamos esperar o show deitados, jogando truco. Tinha um povo distribuindo pacotinhos de água de torneira, criando verdadeiras guerrinhas de água, bem refrescantes num dia de tanto calor. O tempo passou rápido, e quando faltava uma hora para o show do Franz Ferdinand começaram a construir as pistas que saíam do palco para o meio do público (aquelas que o Bono usa pra ir pro meio da “galera”). Fomos nos infiltrando até ficar tão perto da passarela e do palco que ficamos até assustados com a nossa sorte. Estávamos a uns 15 metros do palco e uns 5 da passarela (espaço esse que ficou ainda menor uma vez que o show do U2 começou). Pontualmente ás 20h01 as luzes abaixaram e o Franz Ferdinand entrou no palco...