domingo, outubro 31, 2004

se o corpo abandonar minha alma
não tenha de mim uma idéia falsa
não chore, mantenha a calma
estou morto por minha causa

cuidado: assim como sua mala
o meu caixão não térá alça

marcos prado

sexta-feira, outubro 29, 2004

Estou doida de vontade de atualizar. O problema é que não tenho tempo. O problema também é que ninguém se importa.
Sei lá quando vai dar pra voltar aqui. Provavelmente já terei esquecido o que queria dizer.
até então
lívia

sexta-feira, outubro 01, 2004

DEMOROU... MAS OLHA O TAMANHO DO TEXTO!!!!

Não atualizei porque não tinha quase nada pra dizer e, quando tinha, não queria que ninguém soubesse o que.

Tenho tido muito tempo pra pensar nas coisas, o que nunca dá muito certo. Tem até aquela frase “as coisas são boas pra se pensar”. Pois eu discordo. Concordo é com o Marcelo quando ele diz que é uma pena que a gente só possa ser alfabetizado, e não analfabetizado. E como tenho tido tempo demais pra ponderar sobre o estado das coisas, tenho feito uns textos capengas que planejava colocar aqui sobre as coisas pensantes da minha mente. A maior parte é sobre a(s) faculdade(s) e sobre o desperdício que é a minha vida (uma crise dos vinte anos um pouco adiantada). Assim sendo, quem quiser, lê, quem não quiser, não lê. Eu não me sinto nem um pouco melhor agora do que antes de começa a digitar. Esse é o primeiro de uma série que eu vou postar (se alguém se voluntariar pra ficar me cobrando) sobre a federal. Depois tem mais um texto sobre o dia em que fizemos o Comunicare Crimes. Será que a Ed se responsabiliza por me forçar a escrever?? Será?

GERALDO VANDRÉ VIVE (literalmente)!!!!!!!!!!!

Cheguei na Federal com meia hora de atraso. Na verdade, estava bem na hora em que eu queria mesmo chegar. Primeiro por que o professor sempre se atrasa, segundo por que ele sempre recolhe os resumos no começo da aula e fica lendo em voz alta lá na frente. Como todos os resumos e trabalhos que eu faço, inclusive esses resumos que eu faço em dupla com a Lise, são chunchados ao extremo, a última coisa que quero é que o professor os leia na frente de todos. O papel ainda estava quente da impressora...qual a graça de fazer trabalhos antes da hora de entrega? O meu pequeno planejado atraso era a garantia de que só entregaria o resumo no final da aula, e o professor o guardaria dentro de um saco plástico e só ia se lembrar dele quando fosse ver os nomes de quem tinha feito todas as lições.

Entrando na reitoria, já percebo uma certa comoção. No entanto, minha boa índole de nerds nem presta muita atenção e sobe pra aula. Saio do elevador pra ver todos os alunos saindo da sala e indo em direção à saída. Estavam indo para o pátio, assistir à paralisação que estava em progresso (paralisação em progresso? Eu, hein?). Maria-vai-com-as-outras que sou, eu sigo. Estava mesmo esperando algo assim desde os meus 13, 14 anos. Naquela época eu ainda era iludida com movimento estudantil, revolução, esquerda, manifestações, passeatas e protestos: todas as coisas que gostamos quando ainda não sabemos mais sobre o mundo. Depois a gente cresce (alguns, pelo menos) E aqui estava meu sonho realizado, uma paralisação, ainda que chinfrim, acontecendo na minha frente. Me senti meio nostálgica, ia ter gostado muito mais disso tudo seis anos atrás. Hoje sou uma cética pessimista, conservadora e desiludida, se é que se pode ser tudo isso ao mesmo tempo.

No centro do pátio uma pequena montanha de mesas e cadeiras empilhadas. A altura até que era considerável, e não parecia tão patético como deve estar soando agora. Alguns revolucionários gatos pingados, um Renault clio do disk-lembranças servindo como carro de som e umas faixas básicas, feitas daquele papel marrom que se vende em rolos e tinta guache. È lógico que nesse momento o clio do disk-lembranças começa a tocar uma música...e que música poderia ser senão a batida e espancada “Pra não dizer que não falei das flores”? Se os estudantes esquerdistas pagassem pelo menos um centavo para o Geraldo Vandré cada vez que tocassem essa música numa manifestação, o Vandré já seria o maior capitalista do mundo. Será que o Vandré já morreu?? Estou com preguiça de procurar agora. Minha reação imediata é virar para o lado, onde estão o Lukas e o Marcelo e fazer uma piada idiota do gênero “Olha, voltamos no tempo pra 1968!”. O que me faz sentir melhor é que logo escuto a voz da Lise atrás de mim fazendo alguma piada semelhante e acrescentando: “Nossa!! Precisam inventar um outro hino!! Eu juro que esses caras devem rezar toda noite pra que a ditadura volte, só pra eles poderem lutar contra e se ferrar”. He! Falou e disse...

A maior parte do povo está lá assim por acaso, como nós, apenas observando, esperando pra ver se vem algum professor chamar pra aula. E não é que vem o professor mesmo? Com quarenta minutos de atraso elechega nos chamar pra sala. Ele não recolhe os resumos, baita alívio pra mim e pra Lise, mas não chega a nem bem começar a dar aula quando a sala é educadamente invadida. Não sei se é possível usar a expressão “educadamente invadida”, mas foi bem que isso que aconteceu: duas estudantes bateram na porta (viram, foram educadas) e pediram para dar um recado. Foram até o tablado e daí começou a pregação. “Por que isso e sei lá aquilo e o FMI e o Banco Mundial que sei lá das quantas do Governo blá blá blá e o PT”. Traduzindo: todos estão convidados a ir pra Santos Andrade assistir uma “aula” contra a reforma universitária. O professor dá uma cortada nas duas dizendo que “quem quiser vai, hoje não tem chamada”. As duas meninas saem da sala, mas ninguém as acompanha. O professor recomeça a aula e os revolucionários, muito provavelmente revoltados que ninguém quis ir com eles, começam a baderna no corredor. Assobiam, gritam, batem palmas e cantam: “vêm, vêm, vêm pra luta, vêm”. Ninguém vai e eles desistem. Mas a verdade é que o professor não está mesmo com vontade de dar aula e decide que o protesto é uma ótima desculpa pra ir pra casa mais cedo. Ele acende um cigarro, ainda em cima do tablado, olha bem pras nossas caras, e dá o dia como encerrado. Pelo menos aproveitamos pra entregar os resumos...

Agora eu me encontro com um pouco de raiva. Afinal, eu fiz o resumo correndo pra poder entregar e o professor diz que aceita na próxima aula, eu vim da minha casa (que não é perto) pra responder a chamada que ele acabou não fazendo e também ia ter que pagar o período inteiro no estacionamento mesmo sem ter feito nada o dia inteiro na aula. E sim, eu sou uma burguesa, não vou esconder nem mentir, falem mal se quiserem, já avisei no começo do texto que passei da minha fase ‘quero ser de esquerda’ quando tinha 14 anos. Mas o mínimo que eu podia fazer era dar uma passada na Santos Andrade e ver a quantas ia o protesto. Achei que seria até um gesto simbólico bonito que homenagearia o meu ‘eu’ de 14 anos, que adoraria ter visto tudo aquilo. Então convenci a Lise, o Lukas e o Marcelo a irem comigo. Ou vocês esperavam que eu fosse sozinha?

Chegando na Santos Andrade, a música que saía do porta-malas do clio era “Disparada” (na boiada já fui boi, mas um dia me montei...), outra do Vandré, quer dizer, a outra, porque ele só tem essas duas músicas conhecidas. Tinha bastante gente até, todo mundo sentado nas escadarias da federal, segurando cartazes. Eu e a Lise não nos agüentamos, vestimos a camiseta do jornalismo e puxamos os bloquinhos da mala, anotando tudo o que víamos para a posteridade, quer dizer, o blog. E enquanto fazíamos isso, ainda fugíamos dos fotógrafos, que queriam nos registrar para todo o sempre como duas acadêmicas de história que participavam de protestos. Êh-lai-á, não vem que não tem!!!

Aqui são alguns poucos cartazes que conseguimos anotar:

“Educação não é mercadoria. A UFPR não pode ser privatizada”
“Não deixe jogar dinheiro público nas privadas” (a mais divertida, na minha opinião)
“Abaixo a contra-reforma universitária do Banco Mundial” (essa eles colaram com durex entre as colunas do prédio)
“A universidade pública pede socorro!!! Diga não à mercantilização”

Uma menina foi falar no carro de som, tentando fazer com que todo mundo cantasse junto com ela essa musiquinha que eu fiz questão de anotar: “Essa reforma da universidade, envolve toda a sociedade, luta com a gente, população, pois é o futuro da educação”. Acho que essa tentativa de cantoria coletiva teria sido mais efetiva se a voz da menina não fosse tão esganiçada e desafinafa. Sério, ela desafinava demais quando falava a palavra ‘gente’. Não sei por que, mas essa palavra sempre saía esganiçada... Além disso, era muito difícil decorar toda essa música ali na hora. O pessoal preferia ficar com o mais tradicional “ 1,2 3, 4,5, 1000, ou pára essa reforma ou paramos o Brasil”. E ainda tinha a versão mais mal-educada dessa mesma musiquinha, só que essa eu não vou colocar aqui.

Mas no meio disso tudo, eu e Lise nos fingindo de repórteres, o Marcelo dando risada, o Lukas sumido e toda a baderna, eu aprendi uma coisa muito séria: os pedagogos não são os mais bobos dos universitários. Eu sempre achei que isso era verdade, mas tive que reformular minha opinião depois do protesto. Hoje posso afirmar que, sem dúvida, quem faz terapia ocupacional é mais bobo que quem faz pedagogia. Querem saber o que me fez mudar de idéia? Pois bem, foi a musiquinha que o grupinho de terapia ocupacional inventou e ficou cantando. É tão bobo que não sei nem se alguém vai entender se eu colocar aqui... Era mais ou menos assim: “um, dois, três, quatro, cinco, seis, sete, oooooooooooooito!!!!!!!” E aí, entendeu??? Pois é.

Um cara do IBGE que devia estar passando pela rua resolveu participar e fazer discurso no carro de som. Ele falava meio rápido, mas anotei algumas partes que iam mais ou menos assim: “o ministro da educação é um empregado do FMI (...) governo traidor do povo brasileiro (...) estão entregando nossas riquezas (...)”. Quando ele acabou, todos começaram a esperar a professora que iria dar a “aula” sobre a reforma universitária. Enquanto isso, o clio do disk-lembranças tocava no máximo “A Banda”, de Chico Buarque, com as caixas de som do porta-mala quase no limite.

Eis que o Lukas reaparece com um convite pra irmos jogar pebolim (não tem no dicionário Aurélio, mas a internet diz que é assim que se escreve) no centro acadêmico de direito. Bons burgueses que somos, sempre preferimos um jogo de pebolim a uma manifestação. Pra estudantes de história nós somos bem alienados...fazer o que?? Vamos nos inflitrando pela federal até achar o CAHS, que estava vazio e com as luzes apagadas. Ficamos jogando um bom tempo, nem sei quanto, sem maiores incidentes (a não ser quando Marcelo levou uma bolada no olho, mas isso são ossos do ofício). Quando finalmente saímos, ainda estava tendo discurso na escadaria. Afinal, quanto agüenta a bateria de um clio?? Estou encucada com isso.

Voltamos para a reitoria para protestarmos do nosso próprio jeito: tomando coca cola e comendo baiconzitos (mentira, eu tomei um iced tea e a Lise um suco de morango). Quando chegamos lá, encontramos os coitados dos tios da limpeza organizando a bagunça dos estudantes. Essa é a parte do protesto que ninguém nunca fica pra ver. Os jovens vão lá lutar pelos direitos do povo, mas quem que sobra pra botar a ordem na casa depois que os jovens vão embora??

Na porta da cantina encontramos dois cartazes de cerveja todos rabiscados. As modelos nas fotos estão pintadas e escreveram frases no sentido de que mulher não é mercadoria e outras coisas do gênero. Eu, a Lise, o Marcelo e o Lukas conversamos um pouco sobre isso e depois entramos na cantina. Só contei essa parte da história porque quem ler o caderno FUN da Gazeta de Hoje vai encontrar na capa dele que quem fez isso é um grupo feminista chamado Guerrilha Lilás (hehe). Trata-se de acadêmicas da UFPR que montaram um grupo feminista que faz esses tipos de protesto e promove discussões sobre o papel dos “gêneros” na sociedade. Algumas são filiadas do PSTU e outras desse partido novo pra qual a Heloísa Helena entrou depois que chutaram ela pra fora do PT (esquerdistas por favor acalmem seus ânimos antes de virem me xingar).

Eu sei que eu me estresso, reclamo e sei lá mais o que. Mas tem dias que vale a pena estudar na federal e passar por isso. Assim como também vale o outro lado, o de estudar numa particular.Na PUC, por exemplo, faltou luz e os estudantes do bloco de exatas usaram todos os extintores de incêndio do prédio pra brincar no escuro. São dois mundos diferentes, e eu fico ali, em cima do muro.

Depois de já ter tido aula sobre Marx, já ter visto professor com camiseta do MST, já ter comido no RU (comida muito boa) e já ter participado de manifestação e paralisação, agora só falta mesmo uma greve pra completar minha experiência universitária. Dane-se o diploma!! Quando é que começa a greve, mesmo?

Espero não ser espancada por ninguém depois de postar isso aqui. Sei que tem gente a dar com o pé que me odiaria com toda a razão pelo que eu escrevi. Este não é um dos meus textos mais politicamente corretos (com o perdão pelo uso dessa expressão), mas tava mesmo com vontade de escreve-lo, e sabia que tinham umas duas ou três pessoas que queriam ler. Além do mais, pouca gente sabe desse blog, e quem entra aqui é meu amigo, então vai entender que eu não sou uma pessoa pra ser levada à sério em nada, especialmente política. Olhei na internet e não descobri nada sobre o Vandré ter morrido, então vai ver ele ainda está vivo! Eu sei que em 2000 ele deu uma entrevista. Quem souber de alguma coisa me avise, porque agora fiquei curiosa. E eu sei que ele tem várias músicas boas (eu tenho até CD!), mas o que quis dizer no texto é que o povo só conhece as duas que eu mencionei. OK?

P.S.- minhas fontes confirmam que o Vandré não morreu, não. Está vivinho da silva. Ouvi até dizer que morava no Chile, mas isso pode muito bem ser intriga da oposição.

P.S.2- Só pra agradecer o árduo trabalho dos meus editores, que também são testemunhas de tudo que eu falei, Marcelo e Lise. O Marcelo me lembrou que o carro era um clio, e não um corsa. A Lise me lembrou que ela tinha tomado suco de morango, e não coca, além de ter ajudado na coleta de dados.

(pra quem chegou até aqui não custa nada comentar, né?)