Só pq eu não coloco algo aqui faz tempo.
Esse texto já tava pronto faz um tempo, tive que fazer de 'lição de casa' umas semanas atrás. Como não to com tempo de escrever nada novo, vai isso mesmo... Mas semestre que vem vai ser O semestre em termos de escrivinhação, quando tiver mais notícias coloco aqui.
Colocando em números, foram 5 anos de fixação, que se refletem em 53 fitas VHS, 22 livros que mandei importar e um sem número de revistas especializadas que foram jogadas, inadvertidamente, no lixo. Organizei até uma pasta, tudo sobre um só assunto: patinação no gelo. Por causa de patinação me viciei em internet – me correspondendo com fãs do mundo inteiro, já que por aqui não encontrava nenhum. Não, eu não sei patinar, nem tenho vontade de aprender. Mas quando o assunto é patinação artística no gelo, dificilmente se encontrará alguém mais bem informado por esses lados do país tropical em que vivemos. Folheando minha pasta, acho a história da patinação, desde os tempos em que os patins eram feitos de ossos, passando por (quase) todos os grandes nomes e momentos mais importantes e competições. E o que me angustia mais do que tudo não é o dinheiro que fiz meus pais gastarem ou o tempo que perdi com esse hobby, mas sim o absurdo do hobby que escolhi. Não existe explicação lógica. Um dia tudo parecia normal, no outro já estava passando as madrugadas esperando que alguma competição passasse de madrugada pra que eu pudesse grava-la – e elas passavam apenas de madrugada. Sem mais nem menos, me viciei.
Mesmo 4 anos depois de ter me curado do vício, e esporte ainda me fascina. Caso contrário não teria esquecido do mundo durante as Olimpíadas de inverno desse ano para ficar olhando um rinque de gelo branco e reluzente. E não é pra menos, poucos esportes exigem tanto artisticamente de seus atletas. Poucas artes exigem tanto fisicamente de seus artistas. A dicotomia esporte x arte é uma constante na patinação artística. Tanto que a própria maneira de se julgar uma apresentação se divide nos quesitos técnicos e de interpretação. É fato que, hoje, um atleta masculino que participa de competições de alto nível não tem possibilidade de vencer uma competição sem um salto quádruplo. Isso significa que, em plena velocidade, ele deve pular, girar quatro vezes no ar e aterrissar em uma lâmina de de 0,5 cm de espessura sem cair. Convenhamos que isso não é pra qualquer um. Mas, mesmo que esse atleta passe os 4 minutos e trinta segundos que tem disponível no programa longo para realizar 20 saltos quádruplos, ele não vencerá se sua interpretação não for compatível com seu nível técnico. Tudo é muito relativo, claro. Recentemente os métodos de pontuação foram completamente alterados para garantir uma maior justiça na hora de se atribuírem as notas e uma menor subjetividade por parte dos juízes.
Depois de anos de prática, fica fácil perceber porque alguns patinadores são melhores que os outros. Quando algum iniciante se aventura pelo mundo da patinação, pode se perguntar por que um patinador que realizou seu programa sem cair ficou para trás de outro que caiu. A resposta é simples, mas nem sempre clara para muitos: nem tudo são saltos. Velocidade, habilidade, giros, interpretação: tudo isso conta. Mesmo os saltos são diferentes entre si e são apenas parte de inúmero quesitos a serem julgados. Demorei muito até me sentir segura nas minhas opiniões, e ainda hoje dou uma ou outra bola fora. Felizmente, uma das vantagens de ser fã de patinação no gelo é que ninguém vai perceber os seus erros – ou se importar com eles.
São quatro as categorias em que se pode competir: feminino solo, masculino solo, pares e dança. Cada um possui suas particularidades. Em miúdos, temos o programa curto, que é mais técnico e possui elementos obrigatórios, e o programa longo, mais livre para a interpretação do atleta. O programa longo vale mais, mas o resultado é conseguido pela soma das duas notas. A feminina é, de longe, a mais divulgada – um dos poucos esportes em que as mulheres ganham mais atenção que os homens. Para mim, contudo a categoria masculina é a preferida, pelo maior nível técnico, quem sabe. Ou talvez pelos próprios patinadores. Um, em particular.
No primeiro parágrafo mencionei que não sei como entrei nessa onda de patinação – o que é verdade. Mas uma vez que fui engolida, sei perfeitamente quem me fez continuar assistindo: Todd Eldredge. Americano, filho de um pescador e uma dona de casa, Todd começou a patinar aos 6 anos – e desde pequeno já era bom. Mas trata-se um esporte caro de se praticar, e quanto melhor se é, mais se gasta. A família hipotecou a casa duas vezes para mante-lo no esporte. Quando nem isso foi suficiente, a cidade se juntou para fazer uma vaquinha pra que ele pudesse continuar pagando o treinador. O esforço valeu a pena – Todd tem, hoje em dia, uma coleção de carros que inclui uma Ferrari e, aos 35 anos pode se aposentar e passar o resto da vida jogando golf. Só isso já mostra o quanto dinheiro a patinação no gelo movimenta nos EUA e nos países em que se praticam esportes de inverno.
Mas nem tudo foram flores para Todd – muito menos para seus fãs. Eu, principalmente, que sofri com eles durante anos e nem testemunhei sua maior vitória. Mas vamos começar do começo: Desde jovem, já se destacava. E mesmo quando entrou na competição mais acirrada do país, ele se provou o melhor, tornando-se campeão americano em 1991. Mas aí é que o drama começa... As Olimpíadas são o sonho de qualquer atleta, dele em particular, mas em 1992, competindo doente, amargou o décimo lugar. Em 1994 nem chegou a se classificar. Parecia o fim da linha, mas, em uma dos maiores retornos do esporte, ele conseguiu vencer o campeonato mundial em 1996 – maior vitória de sua carreira. Em 1997, eu passei a acompanhar o esporte. Testemunhei mais títulos americanos e, junto com o mundo, me preparo para a sua vitória em Nagano, 1998. Mas não era pra ser. Tudo bem, esperamos até Salt Lake, em 2002. Mais títulos nacionais, bom resultados (embora não a vitória) nos mundiais e chegamos em ano olímpico.
Desculpem, achei que poderia falar do assunto, mas aparentemente o vício não morreu e este tópico delicado que é a Olimpíada de 2002 ainda é tabu pra mim. Basta dizer que não foi dessa vez, nem de nenhuma outra, que o Todd subiu ao pódio em Olimpíadas. Lembram-se no começo quando eu disse que foram 5 anos de fixação? Então: 1997-2002. Do descobrimento do Todd até sua derrota em Salt Lake eu fui uma fã. Depois disso, deixei meio que de lado. De tão a sério que levava, tive que acabar desistindo. Com o tempo voltei, mas não é a mesma coisa que antes; agora consigo assistir uma competição sem esgotar meu sistema nervoso. Ainda tenho os livros, as fitas antigas e o conhecimento que adquiri que parece não desgrudar da minha cabeça. E deixa o Todd na dele, com a coleção de carros e jogando golf. Ele parece não estar se importando muito com Salt Lake, então por que estaria eu?
Esse texto já tava pronto faz um tempo, tive que fazer de 'lição de casa' umas semanas atrás. Como não to com tempo de escrever nada novo, vai isso mesmo... Mas semestre que vem vai ser O semestre em termos de escrivinhação, quando tiver mais notícias coloco aqui.
Colocando em números, foram 5 anos de fixação, que se refletem em 53 fitas VHS, 22 livros que mandei importar e um sem número de revistas especializadas que foram jogadas, inadvertidamente, no lixo. Organizei até uma pasta, tudo sobre um só assunto: patinação no gelo. Por causa de patinação me viciei em internet – me correspondendo com fãs do mundo inteiro, já que por aqui não encontrava nenhum. Não, eu não sei patinar, nem tenho vontade de aprender. Mas quando o assunto é patinação artística no gelo, dificilmente se encontrará alguém mais bem informado por esses lados do país tropical em que vivemos. Folheando minha pasta, acho a história da patinação, desde os tempos em que os patins eram feitos de ossos, passando por (quase) todos os grandes nomes e momentos mais importantes e competições. E o que me angustia mais do que tudo não é o dinheiro que fiz meus pais gastarem ou o tempo que perdi com esse hobby, mas sim o absurdo do hobby que escolhi. Não existe explicação lógica. Um dia tudo parecia normal, no outro já estava passando as madrugadas esperando que alguma competição passasse de madrugada pra que eu pudesse grava-la – e elas passavam apenas de madrugada. Sem mais nem menos, me viciei.
Mesmo 4 anos depois de ter me curado do vício, e esporte ainda me fascina. Caso contrário não teria esquecido do mundo durante as Olimpíadas de inverno desse ano para ficar olhando um rinque de gelo branco e reluzente. E não é pra menos, poucos esportes exigem tanto artisticamente de seus atletas. Poucas artes exigem tanto fisicamente de seus artistas. A dicotomia esporte x arte é uma constante na patinação artística. Tanto que a própria maneira de se julgar uma apresentação se divide nos quesitos técnicos e de interpretação. É fato que, hoje, um atleta masculino que participa de competições de alto nível não tem possibilidade de vencer uma competição sem um salto quádruplo. Isso significa que, em plena velocidade, ele deve pular, girar quatro vezes no ar e aterrissar em uma lâmina de de 0,5 cm de espessura sem cair. Convenhamos que isso não é pra qualquer um. Mas, mesmo que esse atleta passe os 4 minutos e trinta segundos que tem disponível no programa longo para realizar 20 saltos quádruplos, ele não vencerá se sua interpretação não for compatível com seu nível técnico. Tudo é muito relativo, claro. Recentemente os métodos de pontuação foram completamente alterados para garantir uma maior justiça na hora de se atribuírem as notas e uma menor subjetividade por parte dos juízes.
Depois de anos de prática, fica fácil perceber porque alguns patinadores são melhores que os outros. Quando algum iniciante se aventura pelo mundo da patinação, pode se perguntar por que um patinador que realizou seu programa sem cair ficou para trás de outro que caiu. A resposta é simples, mas nem sempre clara para muitos: nem tudo são saltos. Velocidade, habilidade, giros, interpretação: tudo isso conta. Mesmo os saltos são diferentes entre si e são apenas parte de inúmero quesitos a serem julgados. Demorei muito até me sentir segura nas minhas opiniões, e ainda hoje dou uma ou outra bola fora. Felizmente, uma das vantagens de ser fã de patinação no gelo é que ninguém vai perceber os seus erros – ou se importar com eles.
São quatro as categorias em que se pode competir: feminino solo, masculino solo, pares e dança. Cada um possui suas particularidades. Em miúdos, temos o programa curto, que é mais técnico e possui elementos obrigatórios, e o programa longo, mais livre para a interpretação do atleta. O programa longo vale mais, mas o resultado é conseguido pela soma das duas notas. A feminina é, de longe, a mais divulgada – um dos poucos esportes em que as mulheres ganham mais atenção que os homens. Para mim, contudo a categoria masculina é a preferida, pelo maior nível técnico, quem sabe. Ou talvez pelos próprios patinadores. Um, em particular.
No primeiro parágrafo mencionei que não sei como entrei nessa onda de patinação – o que é verdade. Mas uma vez que fui engolida, sei perfeitamente quem me fez continuar assistindo: Todd Eldredge. Americano, filho de um pescador e uma dona de casa, Todd começou a patinar aos 6 anos – e desde pequeno já era bom. Mas trata-se um esporte caro de se praticar, e quanto melhor se é, mais se gasta. A família hipotecou a casa duas vezes para mante-lo no esporte. Quando nem isso foi suficiente, a cidade se juntou para fazer uma vaquinha pra que ele pudesse continuar pagando o treinador. O esforço valeu a pena – Todd tem, hoje em dia, uma coleção de carros que inclui uma Ferrari e, aos 35 anos pode se aposentar e passar o resto da vida jogando golf. Só isso já mostra o quanto dinheiro a patinação no gelo movimenta nos EUA e nos países em que se praticam esportes de inverno.
Mas nem tudo foram flores para Todd – muito menos para seus fãs. Eu, principalmente, que sofri com eles durante anos e nem testemunhei sua maior vitória. Mas vamos começar do começo: Desde jovem, já se destacava. E mesmo quando entrou na competição mais acirrada do país, ele se provou o melhor, tornando-se campeão americano em 1991. Mas aí é que o drama começa... As Olimpíadas são o sonho de qualquer atleta, dele em particular, mas em 1992, competindo doente, amargou o décimo lugar. Em 1994 nem chegou a se classificar. Parecia o fim da linha, mas, em uma dos maiores retornos do esporte, ele conseguiu vencer o campeonato mundial em 1996 – maior vitória de sua carreira. Em 1997, eu passei a acompanhar o esporte. Testemunhei mais títulos americanos e, junto com o mundo, me preparo para a sua vitória em Nagano, 1998. Mas não era pra ser. Tudo bem, esperamos até Salt Lake, em 2002. Mais títulos nacionais, bom resultados (embora não a vitória) nos mundiais e chegamos em ano olímpico.
Desculpem, achei que poderia falar do assunto, mas aparentemente o vício não morreu e este tópico delicado que é a Olimpíada de 2002 ainda é tabu pra mim. Basta dizer que não foi dessa vez, nem de nenhuma outra, que o Todd subiu ao pódio em Olimpíadas. Lembram-se no começo quando eu disse que foram 5 anos de fixação? Então: 1997-2002. Do descobrimento do Todd até sua derrota em Salt Lake eu fui uma fã. Depois disso, deixei meio que de lado. De tão a sério que levava, tive que acabar desistindo. Com o tempo voltei, mas não é a mesma coisa que antes; agora consigo assistir uma competição sem esgotar meu sistema nervoso. Ainda tenho os livros, as fitas antigas e o conhecimento que adquiri que parece não desgrudar da minha cabeça. E deixa o Todd na dele, com a coleção de carros e jogando golf. Ele parece não estar se importando muito com Salt Lake, então por que estaria eu?