Falei que ia atualizar hoje e vou cumprir minha promessa! Olha que post gigante! Ninguém vai ficar com crise de abstinência hoje...
UM TEXTO BEM MENOS ENGRAÇADÃO E BEM MAIS ATRAVANCADO QUE O DE COSTUME
Só pra variar, ontem eu estava morrendo de raiva do mundo. Tenho raiva de motoristas de ônibus e caminhões, ainda mais os que estacionem em ruas estreitas e atrapalham todo mundo. Eles acham que podem simplesmente ir mudando de faixa sem dar sinal ou mesmo olhar pra ver se tem carro.Tenho raiva dos pedestres que se jogam na frente dos carros, só pra atravessar a rua dois segundos antes. Tenho raiva de motoristas espertinhos que ficam costurando no trânsito. Tenho raiva de quem não dá sinal, de quem pára pra virar. Raiva de carros muuuuuuuuuuuuuito lerdos, de quem não dá vez e de quem se enfia na sua frente sem nem pedir licença. Motoqueiros, então, nem falo nada... Gente que demora horas pra começar a andar quando abre o sinal. Motoristas de carros diferentes que decidem conversar, atravancando a rua. Gente que buzina pra tudo!! Gente que estaciona em local proibido.
Mas, mais do que tudo que eu disse, mais do que todos esses impropérios do trânsito, eu odeio o fato que a seleção feminina de vôlei perdeu ontem. Sério, muita raiva mesmo. Afinal, o jogo estava nas nossas mãos. E essa derrota imbecil, somada à derrota no futebol feminino, o fato que minha Internet estava fora do ar e o filme que eu queria muito assistir veio todo riscado da locadora estragou meu dia. Porra!!! Como é que nós fomos perder???? Eu não acredito. Não quero mais falar disso. Chega de Olimpíadas pra mim.Aí, o que aconteceu foi que eu peguei um outro filme na locadora, um que eu já tinha assistido e amado, e combinava bastante com o meu estado dramático: “A Insustentável Leveza do Ser”. E assim consegui minha dose de Daniel Day-Lewis e Juliette Binoche, e as coisas não pareciam mais tão ruins.
E foi daí que meu dia melhorou.
Tem um programa no “People and Arts” que se chama “Mochileiros”. Eu adoro esse programa, principalmente os episódios mais antigos, que são apresentados pelo Ian Wright e pela Justine Shapiro. A Justine Shapiro, junto com um outros dois caras, dirigiu um documentário sobre crianças palestinas e israelenses chamado “Promisses”. Esse documentário ia estrear ( 6 anos atrasado, pois, afinal, estamos no Brasil, o país dos atrasos) no GNT, e é lógico que eu ia assistir, fã que sou da Justine Shapiro.O título em português é “Promessas de um Novo Mundo”. Trata-se de um documentário que entrevista crianças árabes e israelenses que moram em ou perto de Jerusalém, sobre a questão dos conflitos por religião e pelas terras.
Minha nossa.
No começo eu nem acreditava no que aquelas crianças falavam. O fanatismo já é enraizado nas coitadas desde que elas nascem. Piás de oito anos falando em entrar pro exército/guerrilha pra matar inimigos e libertar seu povo. Meninas que já sabem o que vão fazer todos os dias pro resto da vida. Tinha uma menininha judia ortodoxa de uns dez anos que descreveu todo seu futuro! Ela explicava que nos dias anteriores aos dias santos, eles não podiam tocar em dinheiro, cortar papel higiênico, lavar a louça, etc. Então ela fazia tudo isso sozinha alguns dias antes, e sei lá onde estavam os pais delas. Enquanto o irmão dela ficava brincando no computador, ela tentava, sem sucesso, desvencilhar duas cadeiras de plástico duas vezes maiores que ela.
O mais assustador é que todos eles sabiam citar a Bíblia e o Corão de cor e salteado, e os usavam, cada um para o seu lado, como “provas irrefutáveis” . Agora, se a os livros sagrados são irrefutáveis e dizem tudo, por que mesmo que está tendo conflito, hein???
Um menino árabe (loiro de olho azul), dizia que não queria contato nenhum com judeus, se recusava até a chegar perto. A Justine e o outro diretor, BZ, são judeus. Então, o BZ disse para o menino: “Mas você sabe que eu sou judeu, e mesmo assim você está falando comigo”, ao que o menino respondeu “Mas você não é judeu de verdade, você é americano”. Então BZ senta ao lado do menino e os dois dão as mãos. BZ diz: “E se eu te disser que eu nasci e cresci a dez minutos daqui? Sou daqui também, não sou apenas americano”. A câmera dá um close nas mãos dadas dos dois e, por um segundo, você imediatamente acha que o menino, numa atitude de repulsa, vai tirar a sua mão. Surpreendentemente, eles continuam de mãos dadas, o menino com cara de espanto.
Mas o mais bonito do documetário, que acompanha as crianças por três anos, é o encontro de dois irmãos israelenses com meninos e meninas árabes. Como os diretores vão e voltam de cada lugar, isto é, não ficam seis meses num local e depois não voltam mais, os entrevistados começam a sentir curiosidade uns pelos outros. Fazem perguntas sobre como é a vida do outro lado do conflito. Os gêmeos judeus mandam um recado de vídeo para um menino árabe, dizendo que gostariam de se encontrar e conversar. O menino árabe responde com um telefonema. E então, com esse telefonema, toda a raiva que eu sentia pela derrota do Brasil no vôlei passou. Por quê?? Porque quando os dois meninos que foram criados pra se odiar conversam pela primeira vez, eles encontram uma coisa em comum: os dois vão torcer para o Brasil na Copa do Mundo. E é então que a gente se dá conta de como a vida tem dessas coisas tão pequenas, mas que podem ser infinitamente grandes. Um esporte, por exemplo. Ou então um time de futebol...
No sábado os meninos têm um encontro marcado. Os gêmeos vão visitar o campo de refugiados onde moram os meninos e meninas árabes, já que aos árabes não é permitido o direito de ir e vir. O primeiro contato é estranho. As paredes pichadas em árabe pedem por vingança, por derramamento de sangue. Jafar, a menino árabe, avisa aos gêmeos: “melhor falar em inglês. O hebraico não é bem visto por aqui”. Mas esse estranhamento inicial não dura dez minutos. Logo as crianças estão correndo, jogando futebol, papeando em inglês. No final do dia, os diretores juntam os meninos e meninas para conversar, e percebe-se que ninguém está feliz com o que acontece em Jerusalém. As crianças se entendem de uma maneira tão bacana que eu chego a me emocionar. Cada um entende o lado do outro. Todos tem parentes e amigos que morreram no conflito. No final da entrevista, Jafar começa a chorar, “demoramos tanto pra chegar até aqui, e agora BZ vai embora e tudo que conseguimos vai se perder”, diz, comentando da sua nova percepção de mundo e de seus novos amigos. Será que tem mesmo que se perder??
Eu receio dizer que é inevitável. Embora o encontro tenha sido muito bonito, deve-se lembrar dos outros entrevistados que não quiseram participar dele. Deve-se lembrar das milhares de crianças que crescem tendo entolados na cabeça o ódio e o preconceito, seja pra qual lado for. Três anos depois, o documentário volta a entrevistar as crianças - já adolescentes. Os gêmeos israelenses estão preocupados em viver suas próprias vidas, tentando deixar o conflito apenas como pano de fundo, tentando viver normalmente no meio do caos. As crianças árabes não têm esse privilégio. Elas vivem com o conflito todos os minutos, seja com as barreiras militares que os impedem de sair, os campo de refugiados, os parentes presos indefinidamente ou seja lá o que for. Se restava alguma dúvida, ela nos é sanada. Tudo se perdeu, sim.
Pessoas, desculpa pelo texto truncado e mal-feito, mas é o que saiu. Fiquei meio apreensiva de colocar um texto tão político e religioso num lugar tão público. Detesto até falar dessas coisas controversas.Espero ter sido imparcial, pois é assim que eu me sinto (espero que o texto reflita isso). Mas, pelo que vale, assistam o documentário se puderem. Tirem suas próprias conclusões. E por favor, se alguém ficar ofendido, não foi em absoluto a minha intenção. Eu sou só uma Zé-ninguém que não sabe de nada. Me escrevam que eu apago do blog, ok?
UM TEXTO BEM MENOS ENGRAÇADÃO E BEM MAIS ATRAVANCADO QUE O DE COSTUME
Só pra variar, ontem eu estava morrendo de raiva do mundo. Tenho raiva de motoristas de ônibus e caminhões, ainda mais os que estacionem em ruas estreitas e atrapalham todo mundo. Eles acham que podem simplesmente ir mudando de faixa sem dar sinal ou mesmo olhar pra ver se tem carro.Tenho raiva dos pedestres que se jogam na frente dos carros, só pra atravessar a rua dois segundos antes. Tenho raiva de motoristas espertinhos que ficam costurando no trânsito. Tenho raiva de quem não dá sinal, de quem pára pra virar. Raiva de carros muuuuuuuuuuuuuito lerdos, de quem não dá vez e de quem se enfia na sua frente sem nem pedir licença. Motoqueiros, então, nem falo nada... Gente que demora horas pra começar a andar quando abre o sinal. Motoristas de carros diferentes que decidem conversar, atravancando a rua. Gente que buzina pra tudo!! Gente que estaciona em local proibido.
Mas, mais do que tudo que eu disse, mais do que todos esses impropérios do trânsito, eu odeio o fato que a seleção feminina de vôlei perdeu ontem. Sério, muita raiva mesmo. Afinal, o jogo estava nas nossas mãos. E essa derrota imbecil, somada à derrota no futebol feminino, o fato que minha Internet estava fora do ar e o filme que eu queria muito assistir veio todo riscado da locadora estragou meu dia. Porra!!! Como é que nós fomos perder???? Eu não acredito. Não quero mais falar disso. Chega de Olimpíadas pra mim.Aí, o que aconteceu foi que eu peguei um outro filme na locadora, um que eu já tinha assistido e amado, e combinava bastante com o meu estado dramático: “A Insustentável Leveza do Ser”. E assim consegui minha dose de Daniel Day-Lewis e Juliette Binoche, e as coisas não pareciam mais tão ruins.
E foi daí que meu dia melhorou.
Tem um programa no “People and Arts” que se chama “Mochileiros”. Eu adoro esse programa, principalmente os episódios mais antigos, que são apresentados pelo Ian Wright e pela Justine Shapiro. A Justine Shapiro, junto com um outros dois caras, dirigiu um documentário sobre crianças palestinas e israelenses chamado “Promisses”. Esse documentário ia estrear ( 6 anos atrasado, pois, afinal, estamos no Brasil, o país dos atrasos) no GNT, e é lógico que eu ia assistir, fã que sou da Justine Shapiro.O título em português é “Promessas de um Novo Mundo”. Trata-se de um documentário que entrevista crianças árabes e israelenses que moram em ou perto de Jerusalém, sobre a questão dos conflitos por religião e pelas terras.
Minha nossa.
No começo eu nem acreditava no que aquelas crianças falavam. O fanatismo já é enraizado nas coitadas desde que elas nascem. Piás de oito anos falando em entrar pro exército/guerrilha pra matar inimigos e libertar seu povo. Meninas que já sabem o que vão fazer todos os dias pro resto da vida. Tinha uma menininha judia ortodoxa de uns dez anos que descreveu todo seu futuro! Ela explicava que nos dias anteriores aos dias santos, eles não podiam tocar em dinheiro, cortar papel higiênico, lavar a louça, etc. Então ela fazia tudo isso sozinha alguns dias antes, e sei lá onde estavam os pais delas. Enquanto o irmão dela ficava brincando no computador, ela tentava, sem sucesso, desvencilhar duas cadeiras de plástico duas vezes maiores que ela.
O mais assustador é que todos eles sabiam citar a Bíblia e o Corão de cor e salteado, e os usavam, cada um para o seu lado, como “provas irrefutáveis” . Agora, se a os livros sagrados são irrefutáveis e dizem tudo, por que mesmo que está tendo conflito, hein???
Um menino árabe (loiro de olho azul), dizia que não queria contato nenhum com judeus, se recusava até a chegar perto. A Justine e o outro diretor, BZ, são judeus. Então, o BZ disse para o menino: “Mas você sabe que eu sou judeu, e mesmo assim você está falando comigo”, ao que o menino respondeu “Mas você não é judeu de verdade, você é americano”. Então BZ senta ao lado do menino e os dois dão as mãos. BZ diz: “E se eu te disser que eu nasci e cresci a dez minutos daqui? Sou daqui também, não sou apenas americano”. A câmera dá um close nas mãos dadas dos dois e, por um segundo, você imediatamente acha que o menino, numa atitude de repulsa, vai tirar a sua mão. Surpreendentemente, eles continuam de mãos dadas, o menino com cara de espanto.
Mas o mais bonito do documetário, que acompanha as crianças por três anos, é o encontro de dois irmãos israelenses com meninos e meninas árabes. Como os diretores vão e voltam de cada lugar, isto é, não ficam seis meses num local e depois não voltam mais, os entrevistados começam a sentir curiosidade uns pelos outros. Fazem perguntas sobre como é a vida do outro lado do conflito. Os gêmeos judeus mandam um recado de vídeo para um menino árabe, dizendo que gostariam de se encontrar e conversar. O menino árabe responde com um telefonema. E então, com esse telefonema, toda a raiva que eu sentia pela derrota do Brasil no vôlei passou. Por quê?? Porque quando os dois meninos que foram criados pra se odiar conversam pela primeira vez, eles encontram uma coisa em comum: os dois vão torcer para o Brasil na Copa do Mundo. E é então que a gente se dá conta de como a vida tem dessas coisas tão pequenas, mas que podem ser infinitamente grandes. Um esporte, por exemplo. Ou então um time de futebol...
No sábado os meninos têm um encontro marcado. Os gêmeos vão visitar o campo de refugiados onde moram os meninos e meninas árabes, já que aos árabes não é permitido o direito de ir e vir. O primeiro contato é estranho. As paredes pichadas em árabe pedem por vingança, por derramamento de sangue. Jafar, a menino árabe, avisa aos gêmeos: “melhor falar em inglês. O hebraico não é bem visto por aqui”. Mas esse estranhamento inicial não dura dez minutos. Logo as crianças estão correndo, jogando futebol, papeando em inglês. No final do dia, os diretores juntam os meninos e meninas para conversar, e percebe-se que ninguém está feliz com o que acontece em Jerusalém. As crianças se entendem de uma maneira tão bacana que eu chego a me emocionar. Cada um entende o lado do outro. Todos tem parentes e amigos que morreram no conflito. No final da entrevista, Jafar começa a chorar, “demoramos tanto pra chegar até aqui, e agora BZ vai embora e tudo que conseguimos vai se perder”, diz, comentando da sua nova percepção de mundo e de seus novos amigos. Será que tem mesmo que se perder??
Eu receio dizer que é inevitável. Embora o encontro tenha sido muito bonito, deve-se lembrar dos outros entrevistados que não quiseram participar dele. Deve-se lembrar das milhares de crianças que crescem tendo entolados na cabeça o ódio e o preconceito, seja pra qual lado for. Três anos depois, o documentário volta a entrevistar as crianças - já adolescentes. Os gêmeos israelenses estão preocupados em viver suas próprias vidas, tentando deixar o conflito apenas como pano de fundo, tentando viver normalmente no meio do caos. As crianças árabes não têm esse privilégio. Elas vivem com o conflito todos os minutos, seja com as barreiras militares que os impedem de sair, os campo de refugiados, os parentes presos indefinidamente ou seja lá o que for. Se restava alguma dúvida, ela nos é sanada. Tudo se perdeu, sim.
Pessoas, desculpa pelo texto truncado e mal-feito, mas é o que saiu. Fiquei meio apreensiva de colocar um texto tão político e religioso num lugar tão público. Detesto até falar dessas coisas controversas.Espero ter sido imparcial, pois é assim que eu me sinto (espero que o texto reflita isso). Mas, pelo que vale, assistam o documentário se puderem. Tirem suas próprias conclusões. E por favor, se alguém ficar ofendido, não foi em absoluto a minha intenção. Eu sou só uma Zé-ninguém que não sabe de nada. Me escrevam que eu apago do blog, ok?
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