domingo, abril 11, 2004

UM TEXTO MENOS ENGRAÇADÃO

Quem entra nesse blog já sabe que o que vai encontrar: textos sem nexo, pseudo-poemas concretos etc. Já sabe o que NÃO vai encontrar: fotos (a indignação continua), enfeitinhos e coisinhas bonitinhas em geral. Foi um sacrifício pra minha cabeça lesada conseguir colocar lugar para comentar, então percam a esperança que eu me empenhe e coloque qualquer outra coisa (tipo blogs amigos, uma pequena biografia etc) nesta página pré-fabricada pelo blogspot. Na verdade, tudo isto é bom, de uma maneira estranha. É bom pq me força a fazer a coisa menos feita nos blogs atuais: ESCREVER. Isto deixa para vc, caro leitor, apenas uma opção:ler. Dãããã... óbvio, eu sei. Vc também pode air... a escolha é sua. Se vc chegou até aqui é pq está lendo, mas precisa ver quando tem um texto (não precisa nem ser muito grande) em qualquer lugar, como o pessoal simplesmente não se dá ao trabalho de ler. Vou escrevendo, evitando a muito custo o “querido diário, hoje eu fui para a aula...”. Aliás, quero agradecer a todo mundo que comenta, valeu pessoas (ta certo que eu faço uma certa pressão, mas enfim...) Já estou preparada pra não ter comentários neste post sério e sem polêmica, mas algumas vezes vc tem que escrever o que está afim. Já basta a faculdade me mandando o que escrever... e viva o MÓC!!!


Minha vó, que faz o melhor rosbife do mundo, foi vizinha de um vampiro por mais de trinta anos. Hoje, quase dez anos depois dela se mudar, eu sei que o vampiro não era um vampiro, mas sim um “ vampiro”, com aspas. Na época eu e minha prima tínhamos certeza de que a casa ao lado era mal assombrada. Os adultos não só não procuravam nos esclarecer como incitavam a nossa imaginação. Em sete anos de almoço todos os domingos e férias ralando o joelho e tomando banho de mangueira nós nunca vimos o misterioso morador. Fazia sentido: vampiros só saem de noite. A casa era cercada de árvores, mas da janela do quarto da minha tia, no segundo andar da casa, era possível ver uma janela que dava para um escritório. Sim, um escritório. Nosso vampiro era um intelectual.
Tão forte estava a imagem do monstro na minha cabeça de sete anos que demorei até pensar no vizinho como Dalton Trevisan (pois é este o vampiro, pra quem ainda não sabia). Hoje já virou história. Sempre que passo na Amintas com alguém, relembro os fatos e lamento a situação da casa da minha vó, que agora virou um local, digamos, não-familiar.As janelas estão todas pintadas, quando paramos o carro na frente da casa para olha-la e lembrar dos velhos tempos (eu tenho 18 anos!!!) logo vem um segurança pra fazer a gente ir “circulando, circulando!”. Penso se o Dalton (porque já somos íntimos, mesmo sem nos termos conhecido) prefere os vizinhos de agora ou as duas gerações de crianças que viviam enchendo sua paciência.
Minha mãe, tia e tio contam as mesmas histórias que agora eu e minha prima (não que ela se lembre, nem nada – acho até que ela esqueceu que eu existo) contamos. A bola que caía no quintal do vampiro era bola perdida, ele até devolvia, mas inteira furada por uma faca. Ainda bem que nunca nenhuma pessoas caiu do muro dentro da casa dele. A primeira geração era muito educada ou assustada para se defender, mas a geração seguinte não se fez de rogada: eram papéis de bala de hortelã (nunca gostei de bala de hortelã) e ossos de galinha jogados aos montes por cima do muro. Meia hora depois ele jogava tudo de volta e minha vó ficava muito irritada por ter que limpar toda a bagunça. Minha vó tinha uma dispensa gigantesca. Se o Brasil entrasse em guerra e em racionamento, aquela despensa poderia sustentar a família por pelo menos um ano. Caixas e caixas de Cini Gengibirra.
Minha mãe conta da vez em que estava no quintal cantando, feliz e contente, satisfeita com a vida (coisa rara para todos nós) quando ouviu o vampiro perguntando: “menina, vc gosta de cantar???”. Sim, sim, acreditem ou não o vampiro fez a batida piada do “então aprenda” com a coitada da minha mãe, que é possivelmente a única pessoa no mundo mais traumatizada do que eu e que ainda remói esse episódio 30 anos depois. E o pior: eu me sinto mal com isso. Eu- me- sinto -mal- com- uma- coisa- estúpida- que- aconteceu- com- a- minha- mãe- trinta- anos- atrás- mas- eu- juro- que- não- sou- louca- e- para- os- interessados- minha- mãe –canta- muito- bem– e- não- estou- mentindo.
Se falo sobre Trevisan é pq sou uma verdadeira curitiboca (apesar de agora, infelizmente, estar de mal com a cidade). No fundo sou obcecada por Curitiba.Tudo nela me atrai, ou costumava atrair... Apenas acho que preciso de um pouco de distância para não me afogar nestas características tão únicas e sufocantes. E sério, ninguém me agüenta mais quando falo do vampiro e da casa da minha vó. Ô história batida... mas deu vontade de escrever e cá estou. Mas chega por agora. Quem sabe (com certeza) eu volte a escrever sobre esse tema. Eu sempre acabo andando em círculos, mesmo. Até mais, que quiser saber mais que leia o COMUNICARE – Mitos Curitibanos.... se tiver coragem!!!!...


Como não podia deixar de ser, alguns dos poemas ridículos que faço:



"Pelo quintal de pedras vermelhas
Brincam as crianças com o vento nos cabelos
Corre, riem, dançam e pulam
O vizinho pede para que acabem com o barulho
Mas elas nunca o vêem
Pois vampiros só saem no escuro"

"O vampiro não saiu de sua toca
Mas furou com sua faca uma bola
Das crianças que brincavam na vizinha
Irritadas elas respondem jogando ossos de galinha
E papéis de bala de hortelã
O vampiro nem se incomoda
O vampiro é Dalton Trevisan"

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