Ta, ta, eu sei que já faz um tempo. E eu sei que tinha prometido as crônicas de Minas. Só que por enquanto vocês vão ter que ficar com mais uma resenha de filme. Prometo que vou escrever com mais freqüência. Enquanto isso aproveitem a temporada de patinação no gelo (né, Lise) e os filmes que estão sendo lançados antes do Oscar. Entre os indicados, eu pessoalmente sugiro Menina de Ouro. Mas hoje escrevi aqui especialmente pra falar sobre um outro filme. Aí vai:

ANTES DO AMANHECER / ANTES DO PÔR-DO-SOL

Quando eu tinha onze anos, lá nos idos dos anos noventa, apenas duas coisas importavam: coral e basquete. Eu vivia pra ir pro treino e pro campeonatos de basquete e pros ensaios e apresentações do coral. Eu não me importava com o preço da gasolina, o mercado de trabalho, o presidente dos Estados Unidos nem nada disso. E quando um dia eu fui na vídeo-locadora pegar um filme, a atendente me fez uma sugestão: Antes do Amanhecer, com Ethan Hawke e Julie Delpy. Só que na minha cabeça de onze anos, aquele filme devia ser chato pra caramba. E realmente não me culpo, porque não é mesmo filme pra pré-adolescente que só gosta de basquete e coral. Ainda me lembro de achar ridículo o jeito que a mulher da vídeo-locadora falou, dizendo que assistia aquele filme toda vez que estava deprimida. Na época era patético, mas menos de dois anos depois eu já saberia perfeitamente do que ela estava falando, afinal, passei, como todas as pessoas, metade da adolescência tendo crises. Só que no meu caso eu deitava na cama e ficava repetidamente escutando “Anos Dourados” até alguém finalmente encher o saco e vir desligar o som. E então o que aconteceu foi que eu não aluguei o filme naquele dia, nem em muitos dias depois daquele. E eis que a locadora é vendida e aquela atendente passa a não trabalhar mais lá. Então, dois anos depois do conselho que ela me deu, eu finalmente decido alugar “Antes do Amanhecer” e ela nem está mais lá pra ficar toda feliz.
Eu acho que as coisas que mais marcam sua vida acontecem antes de você fazer quinze anos, por isso hoje estou extremamente feliz que assisti aquele filme antes dos quinze, porque assim deixei ele marcar minha vida de uma maneira que não seria possível se eu tivesse me enrolado dois anos a mais. E quando eu gosto de uma coisa, eu realmente gosto dela. Quer dizer, quando um gosto de um filme, assisto muitas vezes, procuro curiosidades da produção e muitas outras coisas nerds. E “Antes do Amanhecer” é um dos meus filmes preferidos. Ele levanta muitas questões que no final não são respondidas, que, ouvi dizer, originavam milhares de debates entre pessoas que gostavam do filme. Mas como quase tudo na minha vida, tive que guardar a adoração do filme apenas pra mim, já que nunca nenhuma das pessoas que conheço jamais se interessou pelas coisas que me fascinavam, e não é só nos filmes que isso acontecia, mas em tudo.
Toda a legião que se identificava tão fortemente com o filme esperou 9 longos anos de incerteza sobre as possibilidades de fazerem uma seqüência. Mas toda a espera valeu a pena, porque a hora finalmente chegou. Está sendo lançado “Antes do Pôr-do-Solr”, a tão sonhada continuação. Eu, é claro, esperei apenas sete anos pra ver como tudo seguia, mas mesmo assim é tempo pra caramba. E agora eu fico muito feliz de poder escrever sobre esses dois filmes. Eu já pude, graças ao irmão do Marcelo, que baixou o filme pela internet e pelo Marcelo, que gravou o filme pra mim, assistir quatro vezes “Antes do Pôr-do-Sol”. E agora que ele vai estrear nos cinemas e todo mundo vai poder ver, quero deixar um apelo pra que vocês não percam tempo em correr até a video-locadora mais próxima e aluguem o primeiro, depois corram no cinema e assistam o segundo. E fiquem felizes que vocês não tiveram que esperar nove anos pra realizar isso! Praqueles fiéis mais antigos, a espera já começou pelo terceiro filme. Será que um dia ele vem? Será que vai demorar tanto? Como que ele vai se chamar? Será “Antes do Meio-Dia”? Eu bem que preferia que essa seqüência se chamasse “Antes do Anoitecer”... Acho que ia dar uma continuidade legal pros título. Em inglês, por exemplo, fica “Before Sunrise” e “Before Sunset”. Mas posso muito bem deixar isso passar, porque o que conta mesmo não são os tradutores, e sim o filme em si. E deixa eu contar pra vocês: é maravilhoso. Muito melhor que o primeiro (na minha humilde opinião), mas não pode ser visto e compreendido na íntegra por quem não viu o primeiro filme. O Ethan Hawke e a Julie Delpy colaboraram com o roteiro, junto com o diretor Richard Linklater, e a Julie ainda colabora com três músicas pra trilha sonora, uma das quais é o ponto altíssimo do filme. Eu não quero estragar a descoberta do filme pra ninguém, Só posso mandar todo mundo assistir aos dois filmes e esperar que vocês me obedeçam...
Até,